quinta-feira, 17 de novembro de 2011

São Paulo: Estados Unidos do Brasil

No último final de semana de novembro de 2011, teremos a 40ª corrida de Fórmula 1 realizada no autódromo de Interlagos. Será um dia de comemoração e por isso a prefeitura conseguiu levar seus caminhões até a vizinhança para dar uma repaginada no local. O ingresso mais barato custa 495 reais, chegando a 2.590 reais. Atualmente, o salário mínimo no Brasil é de 545 reais. Moradores da região de Interlagos teriam condições de pagar a entrada e ainda sobraria troco para talvez um cachorro quente. Cachorro quente?
Alguns anos depois, teremos no Brasil a tão esperada Copa do Mundo de Futebol com abertura na Zona Leste da cidade. Pelo menos tem estação de metrô em Itaquera. Espera-se, então, que o governo dê uma mudada naquela região. O estádio, construído com dinheiro público, trará o nome de um clube de futebol. O que os palmeirenses estão pensando sobre isso? O mais importante: o que a população está pensando sobre isso?
Não há linhas de metrôs que suprem suficientemente a demanda de passageiros. Não quero falar sobre os aeroportos e nem as rodovias. Pelo menos a Copa do Mundo será realizada no período entre eleições municipal e federal. Esqueçam o pré-sal, esqueçam a crise econômica, esqueçam os escândalos políticos. Esqueçam o trabalho, já que estas obras ofertarão milhares de vagas no setor da construção civil. Durante a copa teremos várias vagas no setor turístico também. A cidade terá outras novas linhas de metrô, aeroportos ampliados (ou quase ampliados), ruas mais limpas, mais promessas de vereadores, prefeito, governador e do Tiririca. Nova onda de migração se instalará na capital paulista. Mais passageiros para os novos metrôs. Depois que tudo isso passar, a máscara que colocaram no caos em que vive o Brasil cairá e, de novo, muita desorganização e mais pobreza.
São Paulo é a terra prometida. Mudaria o nome do estado para “Estados Unidos do Brasil”. O ABC paulista seria as 3 Colônias. São tantos santos que rogaria por uma cidade mais civilizada. Felizes serão os moradores da região de Itaquera. Já que é cobrado, durante eventos importantes, uma média de 150 reais para estacionar o carro próximo ao Morumbi, os “itaquerenses” poderiam cobrar 200 pela importância do evento. Assistir aos jogos será como acontece em Interlagos: pela janela (ou lajes) das suas casas. Alguém ouviu falar sobre educação?

A arte nos metrôs de São Paulo

Andando por algumas estações de metrô na capital paulista é possível perceber como a prefeitura tem investido na cultura local. A finalidade, talvez, seja levar um pouco de conhecimento para aqueles que passam a maior parte do dia fora de casa.
São pinturas e textos que se misturam no cotidiano cronometrado da maior cidade brasileira. Beleza? Seria esta outra possível finalidade? Estações mais coloridas e mais organizadas. Portas automáticas. Carros novos. E alguém já parou para ler o que está escrito nas paredes de cada estação? Alguém tem tempo para ler? Alguém já ficou alguns poucos segundos olhando fixamente para cada pintura? Digamos que seria o equivalente de percorrer o MASP em cinco minutos. Se bem que andar pelo MASP sem se atentar para o que é exposto seria exatamente aquilo que ocorre não só nos metrôs, como também nas ruas de São Paulo: são rostos coloridos e paralisados no tempo; são pessoas inertes viajando no espaço; é uma sociedade acomodada nas suas paredes da própria ignorância.
O fracasso desta tentativa de “culturalização” da massa popular é visível no seu comportamento. Pessoas ignorantes, mal-educadas, estressadas e egoístas. Dentro de cada estação há lugares específicos para pessoas com necessidades especiais: desde quando ser “gordo” é ser deficiente? Está certo que ficando de pé no meio do corredor poderia atrapalhar o acesso dos demais passageiros. Coloquemos então mais cadeiras azuis em cada vagão, pois aqueles que têm sobrepeso precisam comer sua barra de chocolate sentado e sem atrapalhar o caminho dos outros. Coloquemos mais cadeiras azuis para os baladeiros de plantão que “dormem” sem notar a presença de uma grávida a sua frente esperando a generosa atitude de ceder o lugar. Seria melhor, então, colorir os vagões. Especifiquemos quem pode se sentar em cada fileira. Por faixa etária ou por sexo? Por profissão ou por etnia? Cria-se, assim, uma linha para nordestinos.
Foram incontáveis vezes em que me deparei com situações como essas, cuja procedência me deixava, às vezes, envergonhado de morar em tal cidade e precisar dividir o mesmo espaço com pessoas indiferentes e desumanas. Um pai se segurando para não cair com seu filho no colo e um jovem de no máximo 28 anos fingindo dormir tranquilamente durante o seu trajeto. Enquanto este sonhava profundamente, aquele sonhava em ter algum lugar cedido, para que o seu filho não pudesse crescer com este trauma brasileiro do qual se lembrará quando não precisar mais ficar nos braços de alguém.
Então, como esperar que pessoas assim parem nas estações para, pelo menos, ver arte, para, pelo menos, tentar entender a finalidade daquela arte? Se estas pessoas não sabem ler nas escadas rolantes que é para se manter no lado direito, deixando o lado esquerdo para livre circulação, como exigir que as mesmas leiam versos pintados nas pedras que construíram São Paulo?