quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A arte nos metrôs de São Paulo

Andando por algumas estações de metrô na capital paulista é possível perceber como a prefeitura tem investido na cultura local. A finalidade, talvez, seja levar um pouco de conhecimento para aqueles que passam a maior parte do dia fora de casa.
São pinturas e textos que se misturam no cotidiano cronometrado da maior cidade brasileira. Beleza? Seria esta outra possível finalidade? Estações mais coloridas e mais organizadas. Portas automáticas. Carros novos. E alguém já parou para ler o que está escrito nas paredes de cada estação? Alguém tem tempo para ler? Alguém já ficou alguns poucos segundos olhando fixamente para cada pintura? Digamos que seria o equivalente de percorrer o MASP em cinco minutos. Se bem que andar pelo MASP sem se atentar para o que é exposto seria exatamente aquilo que ocorre não só nos metrôs, como também nas ruas de São Paulo: são rostos coloridos e paralisados no tempo; são pessoas inertes viajando no espaço; é uma sociedade acomodada nas suas paredes da própria ignorância.
O fracasso desta tentativa de “culturalização” da massa popular é visível no seu comportamento. Pessoas ignorantes, mal-educadas, estressadas e egoístas. Dentro de cada estação há lugares específicos para pessoas com necessidades especiais: desde quando ser “gordo” é ser deficiente? Está certo que ficando de pé no meio do corredor poderia atrapalhar o acesso dos demais passageiros. Coloquemos então mais cadeiras azuis em cada vagão, pois aqueles que têm sobrepeso precisam comer sua barra de chocolate sentado e sem atrapalhar o caminho dos outros. Coloquemos mais cadeiras azuis para os baladeiros de plantão que “dormem” sem notar a presença de uma grávida a sua frente esperando a generosa atitude de ceder o lugar. Seria melhor, então, colorir os vagões. Especifiquemos quem pode se sentar em cada fileira. Por faixa etária ou por sexo? Por profissão ou por etnia? Cria-se, assim, uma linha para nordestinos.
Foram incontáveis vezes em que me deparei com situações como essas, cuja procedência me deixava, às vezes, envergonhado de morar em tal cidade e precisar dividir o mesmo espaço com pessoas indiferentes e desumanas. Um pai se segurando para não cair com seu filho no colo e um jovem de no máximo 28 anos fingindo dormir tranquilamente durante o seu trajeto. Enquanto este sonhava profundamente, aquele sonhava em ter algum lugar cedido, para que o seu filho não pudesse crescer com este trauma brasileiro do qual se lembrará quando não precisar mais ficar nos braços de alguém.
Então, como esperar que pessoas assim parem nas estações para, pelo menos, ver arte, para, pelo menos, tentar entender a finalidade daquela arte? Se estas pessoas não sabem ler nas escadas rolantes que é para se manter no lado direito, deixando o lado esquerdo para livre circulação, como exigir que as mesmas leiam versos pintados nas pedras que construíram São Paulo?

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