quarta-feira, 7 de novembro de 2012
A ADAPTAÇÃO
Poderia ser mais uma adaptação de Romeu & Julieta, mas o que aconteceu na vida de Maria Clara foi além das percepções de Shakespeare. Aqui não havia brigas entre as famílias que viviam juntas e que lutavam pela união dos seus filhos, os quais nunca se entenderam.
Na escola, Maria Clara sentava-se longe de Carlos Henrique. Na rua, cresceram brigando e criando intrigas um contra o outro. Quem gostava do Carlos, não gostava da Maria Clara e vice e versa. Era uma guerra. Enquanto isso, a família deles planejava a maior festa para o casamento dos dois. Iriam se casar a qualquer preço.
- Se vocês me obrigarem a me casar com o Carlos Henrique, eu fujo. Vocês nunca mais me verão! – Sempre que os pais dela tocassem no assunto da união entre os jovens, Maria Clara ameaçava fugir para desespero dos seus pais.
- Eu não me caso! – gritava Carlos Henrique do outro lado da rua.
- Vocês precisam se casar. Seus avós já sonhavam com um casamento entre as nossas famílias. São ricos e nós precisamos deles. – Implorava a mãe de Maria Clara para que ela cedesse.
- Vocês sempre estiveram certos. Nós dois fomos feitos um para o outro. Ele concorda comigo em tudo. Até mesmo quando o assunto é casamento. Não queremos nos casar.
- Vocês vão se casar na semana que vem e pronto. – Disse o pai de Maria Clara.
Carlos Henrique reclamava que a Maria Clara atrapalhava todas as suas tentativas de namorar, pois ele sempre queria uma das amigas dela. Dizia que tinha veneno na língua. Mas ele continuava persistindo.
Já Maria Clara queria ver Carlos Henrique sozinho e fazia de tudo para que ele não se aproximasse das amigas dela. Dizia que gostava do irmão mais velho do Carlos, mas o garoto nunca a olhou. A culpa seria do Carlos que teria difamado a linda garota para toda a vizinhança.
- Ele acabou com a minha vida. Ele sabe que gosto do irmão dele e fez de tudo para colocar uma distância entre nós dois. Nem “oi” aquele garoto diz para mim. – Maria Clara reclamava com sua melhor amiga sobre o descaso do irmão de Carlos Henrique.
- Ela não vale nada. É falsa. Ela fica se jogando para cima do meu irmão para me fazer raiva. Ela me odeia! – Dizia Carlos Henrique ao seu primo.
Ninguém conseguia explicar por que os dois se odiavam tanto. Diziam que caíram no clichê do amor e ódio, os quais andam juntos, mas juravam que só se casariam mortos. Esta briga entre os dois já virara assunto entre todos da vizinhança. Queriam ver o tão esperado casamento. Até os amigos da escola que presenciaram o crescimento do casal de inimigos divulgavam o noivado.
Faltava apenas um dia para o casamento forçado entre Carlos Henrique e Maria Clara e nenhum dos dois havia experimentado a roupa da festa. Estavam os dois trancados nos seus respectivos quartos pensando em como fugir deste destino.
Maria Clara estava pensando em ceder. Não se casaria, mas talvez uma de suas amigas pudesse aceitar às pressões do Carlos e ficar com ele. Ela estaria disposta a deixar uma de suas amigas namorar o tão odiado Carlos Henrique. Ligou para todas elas ficando horas no telefone tentando encontrar uma namorada para ele. Não se sabe se elas recusaram o pedido da amiga por tanto conhecê-lo como uma pessoa ciumenta, controladora e mal-humorada que bate em mulheres ou por quererem ver o casamento dela se concretizar. Naquele momento nenhuma das amigas dela queria ficar ao seu lado. Queriam a festa!
Enquanto isso Carlos Henrique tentava convencer o seu irmão de que Maria Clara era a mulher certa para a vida dele. Mas seu irmão já conhecia o lado venenoso dela que exalava tanta falsidade. Não queria se envolver com aquela vizinha que era prometida ao seu irmão mais novo. Também queria ver o casamento dos dois.
Não havia mais volta. O casamento se realizaria em poucas horas e os noivos estavam aos prantos. Maria Clara queria por em andamento a sua promessa de fuga, mas não sabia para onde iria. Ninguém queria ajudá-la. Enquanto isso Carlos Henrique fingia uma doença grave alertando os seus pais de que a jovem se casaria com ele por interesse na sua herança, já que ele estaria prestes a morrer, entretanto eles sabiam da fajuta desculpa, pois eram médicos experientes. Não tinha nada de errado com ele. Crescera um jovem bonito e saudável.
As amigas da Maria Clara apostavam no conto de fadas, em que o sapo viria o príncipe dela ao ser beijado. Já os amigos de Carlos Henrique acreditavam que a doçura daquela menina seria despertada com o beijo dele como se ela estivesse dormindo esperando pelo seu príncipe. Ela havia comido da maça envenenada pela própria língua. Mas o final poderia fazer parte de outra obra literária durante o “sim” diante do padre e de todos os convidados. Carlos Henrique beijou a noiva que de tão emocionada caiu em seus braços. Acreditando que ela estaria morta correu tentando se esconder. Ao acordar, Maria Clara, assim como todos os familiares, foi procurar pelo seu marido. Não se sabe como ocorreu, mas os dois foram encontrados, dois dias depois, mortos, um sobre o outro.
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